Não sei bem como explicar, mas o que sentia naquele momento era uma leveza, algo sobrenatural, estava fora de mim. Havia um sentimento de paz, muita paz interior.
Quatro dias antes falei ao telefone com ela, foi uma conversa agradável, mas com muitas saudades. Havia uns 20 dias que não nos víamos. Passei alguns dias com minha família em Itacaré e ela estava em Goiânia. Quando cheguei de viagem à minha cidade, Gurupi, ela permanecia em Goiânia terminando um curso e aproveitando para visitar os parentes que moram ali. Nesta conversa ela dizia que no domingo viria para casa, pediu pra que eu cuidasse da creche - uma casa de passagem onde ela cuidara de muitas crianças e abrigara idosos, jovens e adultos carentes - Ela mostrava muita preocupação com um dos netos, pediu pra ajudar a cuidar dele.
Na sexta, à noite, o telefone tocou e para minha surpresa era o meu pai, com notícias não muito boas. Minha mãe havia passado muito mal e teve que ser levada ao pronto socorro. Na manhã seguinte, outra notícia ainda pior, ela havia piorado, teria que ser transferida para outra unidade de saúde e foi o que fizeram. Meu coração começou apertar, fiquei angustiada e desejei estar com ela, porém não era possível ir, pois tinha que entregar uma encomenda de decoração para uma escola. Mesmo que eu estivesse tão agoniada não imaginava, nunca, que ela pudesse estar tão mal quanto estava. Ela sempre foi muito forte e nunca deixava transparecer o que realmente sentia. Já havia 17 anos que vivia como cadeirante, depois de um acidente automobilístico, e durante todos esses anos ela sempre se mostrava mais saudável do que realmente estava.
No domingo, pela manhã, acordei bem cedo para fazer a leitura da lição da Escola Bíblica Dominical, seria a professora do dia, então a lição só falava de sucessão no reinado de Israel, mas no momento não podia compreender o que a lição poderia me revelar. Estava quase terminando a aula quando meu esposo me chama para atender ao telefone. Era, novamente, meu pai. Meu coração bateu forte, doeu-me a barriga e as pernas tremeram. Mamãe havia dado uma parada cardio-respiratória, sua pressão foi quase a zero, foi levada às pressas ao Hospital de Urgência. Nessa hora fui em outro mundo e voltei. -"Meu Deus o que estou fazendo aqui ainda?" Perguntei a mim mesma. Precisava ir até lá. Como pedir ao meu esposo se tínhamos acabado de gastar tanto com a viagem, mas ele se prontificou, mas tinha esperar por minha irmã que estava difícil entrar em contato com ela, pois estava acampando próximo ao Rio Tocantins e ligar foi difícil. Cheguei em casa e fui preparar o almoço para as crianças, enquanto o fazia falava com Deus. Pedi a Ele para que a tirasse daquele sofrimento, daquela dor. Ela já sofrera tanto, não era justo continuar sofrendo tanto assim. Foi nesse momento que aquela paz invadiu meu interior. Mesmo chorando muito, sentia aquela sensação que não tenho palavras suficientes para explicar o que realmente senti naquele momento. Parece que até o momento Deus havia me tirado da realidade, do que realmente estava acontecendo. Como não consegui pensar no que poderia estar passando minha mãe? Como eu podia estar ainda ali e minha mãe precisando de mim?
Minha irmã não aparecia, meu esposo já tinha ligado dando a notícia, mas essa não tinha chegado à ela. A cada minuto eu sofria mais, mais angustiada eu ficava e comecei a me desesperar. Entrei para o quarto e nem consegui comer. Apenas chorava. Quando enfim, coloquei a mente para funcionar, liguei para meu pai e pedi para que levasse o celular pra ela. Queria muito falar com ela, mas ele não podia entrar. Insisti para que ele tentasse entrar de qualquer jeito. Quando ele pôde entrar, era tarde demais. Ela acabara de dar outra parada respiratória e levada ao UTI. Que dor eu senti naquele momento. Eu senti naquela hora que ela não ia sobreviver. Eu só queria poder estar perto dela. Como eu queria abraçá-la só mais uma vez. Eu queria dizer o quanto a amava. Queria poder estar com ela nessa hora tão dolorosa. No fundo eu sabia que Deus ia levá-la. O pedido que fiz a Deus, estava sendo atendido. Todo sofrimento acabaria, ela não sentiria mais dor, não precisaria mais que depender de ninguém para tomar banho, se trocar ou fazer qualquer outra tarefa do dia a dia.
Só agora eu consigo falar sobre isso e assim, mas foi muito difícil no início. Hoje faz 6 anos que ela partiu. Sei que ela está nos braços de Deus. Cumpriu sua missão e deixou um legado. Deixou seu testemunho, seus exemplos: fé, bondade e amor.
*__*
ResponderExcluirAmem
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